Cabra Marcada para Morrer

 

Bode Marcado para Morrer” é uma narrativa semidocumental sobre a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba, assassinado em 1962. Após 40% do roteiro técnico ter sido filmado, o golpe militar de 1964 obrigou a equipe de filmagem a parar de filmar. Parte da equipe foi presa sob a acusação de “comunismo”, e o restante se dispersou por diversas cidades de Pernambuco. O título "Cabra Marcada para Morrer" é inspirado no poema "João Boa-Morte, cabra marcada para morrer" do poeta Ferreira Gullar, que também participa como narrador.

A princípio pretendia ser um filme de ficção com personagens interpretados por atores não profissionais. O roteiro foi estruturado em torno de personagens com perfis bem definidos, constantes, sem conflitos internos, repetitivos em seus pensamentos e atitudes. Ou seja, personagens tipificados e diálogos intelectualizados e ideológicos, distanciados da cultura camponesa. O primeiro material filmado foi salvo da censura graças ao fato de ter sido enviado, antes do golpe de 1964, para um laboratório de revelação no Rio de Janeiro, que, por sua vez, enviou uma cópia para a equipe de filmagem.

No material fílmico disponível verifica-se que os pontos de vista assumidos pela câmara mudam ao longo dos planos, o ponto de vista do telhado segue o olhar do poder; o ponto de vista no nível do solo acompanha a perspectiva do oprimido; o ponto de vista lateral, quando a instância narrativa deixa de assumir a perspectiva dos personagens em cena, torna-se um narrador extradiegético.

Os enquadramentos são muito diversificados: plano geral, close-up, plano médio, plano americano, etc. O tempo real coincide com o tempo diegético, havendo uma semelhança no tratamento dado ao tempo e ao espaço, o que sugere que o roteiro técnico tenha sido elaborado seguindo os cânones do neorrealismo italiano do pós-guerra, com o mesmo perfil didático.

 

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